segunda-feira, 11 de agosto de 2008

VIII - Curso - Lagos de Jardim

ALIMENTANDO SEUS PEIXES EM UM LAGO DE JARDIM. p/ Eiti Yamasaki

Introdução: Um lago de jardim é uma miniatura de um pedaço da Natureza, mas com certas limitações. Essas limitações referem-se, principalmente, à ausência de alimentos naturais “abundantes” e de um enorme volume de água que torna a relação Biomassa/volume tão baixa, em um lago natural. Em um lago de jardim, é necessário que o hobbysta forneça as condições necessárias para o sustento do lago.
Dentre essas condições, as mais importantes são, portanto, a nutrição dos peixes e a qualidade da água. Embora o assunto desse texto seja a “alimentação dos peixes”, será inevitável a abordagem sobre a qualidade da água, uma vez que os dois assuntos estão interligados. Uma dieta equilibrada proporcionará o máximo desenvolvimento dos peixes com o menor impacto na qualidade da água.
Toda substância que o organismo do peixe não digerir será eliminada para a água, poluindo-a.
Na Natureza, isso não é um problema já que o volume de água é muitas vezes maior, tornando mínima a concentração desse poluente na água Também devido à sua dimensão, a quantidade de microorganismos decompositores será bem maior e, portanto, existe um equilíbrio maior. No entanto, nos lagos de jardim essas substâncias não digeridas tendem a acumular tornando-se um verdadeiro problema.
A fim de garantir a qualidade da água do lago, devemos ter um ótimo sistema de filtragem, principalmente biológica, em um lago. Mas obviamente uma boa alternativa para diminuir esse problema, seria gerando menos substâncias não digeridas.
A dieta dos peixes:
Em um lago, não temos tanto controle sobre quais alimentos estão disponíveis aos peixes. Algas, plantas aquáticas e insetos, por exemplo, podem estar servindo como alimentos naturais. Por isso, juntamente com as rações, estaremos incluindo todos esses tipos de alimentos como integrantes da “dieta dos peixes”. Mas devido à variação da disponibilidade desses alimentos, consideraremos a ração como base dessa dieta. Dificilmente uma ração sozinha conseguirá suprir 100% das necessidades dos peixes. Por isso é comum utilizarmos mais de um tipo de ração – Ração de base e Ração complementar –
Para nos certificarmos de que os peixes estão sendo nutridos de maneira adequada os cinco nutrientes mais importantes para os peixes são: -
- Aminoácidos (proteínas):
A deficiência de aminoácidos (que formam a proteína) prejudicará diretamente o crescimento e o ganho de massa dos peixes.
Dificultará o aproveitamento de proteínas, agravando ainda mais os problemas anteriores e, em casos mais extremos, afetará o mecanismo de resposta imunológica, tornando o peixe mais susceptível a doenças.
- Lipídios (gordura):
A deficiência de ácidos graxos essenciais (provenientes dos lipídeos) também prejudicará o crescimento dos peixes.
Outros sintomas de deficiência dessa substância são a perda de pigmentação, ulcerações nas nadadeiras, respiração ofegante e stress.
- Carboidratos:
Carboidratos também são fontes de energia. No entanto, os peixes não conseguem digerir adequadamente os carboidratos, que devem estar presente em concentração inferior a 35% da dieta.
- Vitaminas:
Os sintomas da deficiência de vitaminas dependerão de quais vitaminas faltam na dieta dos peixes.
Vit. A: anorexia, perda de coloração, inchaço nos olhos, deformação do opérculo, etc. o
Vit. B1: diminuição da taxa de crescimento, perda de equilíbrio, esmaecimento de coloração, etc. Vit. B2: perda de apetite, hemorragia na epiderme, etc.
Vit. B3: natação irregular, hemorragias, perda de apetite, etc.
Vit. B5: perda de apetite, hemorragia externa, problemas nervosos, etc.
Vit. B6: natação irregular, perda de equilíbrio, perda de apetite, etc.
Vit. B12: ataques nervosos, danos no tecido nervoso, anemia cerebral, etc.
Vit. C: má formação óssea, diminuição da resistência à infecções, etc.
Vit. D: deformações ósseas, etc.
Vit. E: desfavorece acasalamento, exoftalmia (aumento do globo ocular), etc.
Vit. H: diminuição no crescimento, etc.
Vit. K: hemorragia nos olhos e na pele, etc.
Vit. M: escurecimento da pele, etc.
Minerais: assim como as vitaminas, os minerais são essenciais para o bom funcionamento do organismo do peixe. Os sintomas de deficiência mineral novamente dependerão dos minerais que estão faltando. Os peixes absorvem os minerais não somente da dieta, mas também do ambiente ao seu redor. A água contém muitos minerais que os peixes absorvem através das brânquias. É importante estar ciente das funções dos nutrientes no organismo dos peixes para poder dimensionar a importância de uma dieta adequada.
Por isso, é altamente recomendável a leitura complementar de outros artigos sobre o assunto (sugestão: Alimentação e Nutrição por Rodrigo G. Mabília).
A Ração: Os critérios para a escolha da ração dos peixes devem ser os mesmos que levamos em consideração ao escolher nossos próprios alimentos. A primeira verificação que devemos fazer é quanto ao frescor da ração. Uma ração fresca é muito importante para o desenvolvimento saudável e bem estar dos peixes. Grande parte dos nutrientes de qualquer ração acaba se deteriorando com o passar do tempo, perdendo parte de suas propriedades. Em outras palavras, uma ração velha não possui o mesmo poder atrativo (palatabilidade) nem os mesmos valores nutricionais de uma ração fresca. Por isso, é muito importante verificar a data de fabricação da ração. Caso ela tenha sido fabricada há mais de dois anos e meio, evite compra-la e procure um outro lote mais novo, em outro estabelecimento. A maioria dos grandes fabricantes de ração produz suas rações em larga escala para reduzir custos, estocando e exportando-as em seguida. No entanto, como já foi mencionado, a maioria dos nutrientes acaba deteriorando-se com o tempo. As vitaminas que são tão importantes para o bom funcionamento dos órgãos, são os primeiros a perderem suas propriedades, principalmente em o contato com o ar atmosférico. Óleos também acabam degenerando tornando-se rançosos e assim, não atendendo às necessidades energéticas dos peixes. É importante que todos os valores nutricionais da ração sejam calculados após seu cozimento e extrusão. Adquirindo uma ração fresca, é importante saber por quanto tempo ela permanecerá assim. Depois de aberta a embalagem, a ração entra em contato com o oxigênio e umidade do ar atmosférico. Isso acelera o processo de deterioração da ração, que se iniciou logo após sua fabricação. Note que o processo de deterioração ocorre mesmo dentro da embalagem, embora em velocidade muito inferior. Não há como parar completamente esse processo e é justamente por isso que mesmo com a embalagem fechada, existe uma data de validade.
Compre sempre a quantidade de ração suficiente para ser consumida no menor tempo possível. Depois de aberta, utilizar toda a ração em um ou no máximo dois meses. Após esse período, os valores nutricionais da ração serão mais baixos. Sinta o cheiro da ração também para ajudar a determinar se a ração ainda está boa. Ela deve ter um cheiro forte de carnes. Caso possua um cheiro diferente disso ou mesmo se não tiver cheiro, é sinal de que a ração já não está boa e é preferível descartá-la a arriscar a saúde dos peixes. As pessoas que costumam guardar a ração na geladeira, a fim de preservar mais os nutrientes, devem tomar cuidado ao abrir a embalagem para que a água não se condense na ração. É preciso esperar a ração atingir temperatura ambiente para depois abri-la.
Necessidades dos Peixes: Outro aspecto que deverá ser considerado na escolha da ração é a necessidade atual dos peixes (em termos energéticos, principalmente). Os peixes são animais pecilotérmicos, isto é, a temperatura de seus corpos é proporcional à temperatura ao seu redor (normalmente permanece 0,2~0,5ºC acima da temperatura da água). Por isso, os peixes não gastam energia para manter a temperatura do corpo, como nós humanos. Portanto, o metabolismo dos peixes varia de acordo com a temperatura da água e isso explica a baixa necessidade protéica dos peixes, em relação aos mamíferos em geral.
Mesmo durante o verão, quando o metabolismo dos peixes é mais elevado, evite rações cujos níveis de proteína excedam 38%.
A quantidade de extrato etéreo (gordura) também deve ser limitada em 8%. No caso de peixes de água fria (Kingyos e Carpas) esse nível não deve ultrapassar os 6%. Nas épocas mais frias do ano, quando a temperatura da água chegar em torno de 20ºC, forneça uma ração mais pobre em proteína e gordura. Níveis entre 32~26% são os mais indicados já que os peixes não conseguiriam digerir quantidades superiores a essas, durante essa época do ano.
Aos 15ºC, a quantidade de nutrientes que os peixes conseguem assimilar é muito pequena. Nesse período há praticamente uma estagnação em seu crescimento. Dessa forma, é necessário alimentá-los muito pouco e, dependendo da ocasião, é melhor nem alimenta-los já que há o risco do peixe não digerir o alimento, que acaba permanecendo em seu intestino – que pode fermentar, liberando toxinas no organismo do peixe.
Abaixo de 8ºC, os peixes iniciam a hibernação e mesmo que lhes forneçam alimentos, eles não comerão.
Outro detalhe que deve ser observado é a idade dos peixes. Durante cada fase da vida, os peixes possuem necessidades nutricionais diferentes. Alevinos necessitam de uma dieta muito mais energética que peixes adultos devido à diferença de desenvolvimento-crescimento.
Carpas por exemplo, apresentam sua maior taxa de crescimento até os 3~4 anos de idade. Depois disso, seu ritmo de crescimento começa a desacelerar sendo que aos 6~7 anos de idade esse torna-se bem lento.
Após 10~12 anos, as carpas já não crescem mais. Assim, devemos estar diminuindo os níveis de proteína e lipídeos da dieta dos peixes, de acordo com essa variação da taxa de crescimento e de acordo também com a temperatura da água, que está diretamente ligada ao seu metabolismo. Tipo de Ração: Caso existam peixes de diferentes tamanho no mesmo lago, alimente primeiro os maiores. Como a granulação da ração para peixes adultos é maior, os peixes mais jovens não comerão tanto essa ração. De qualquer forma, os peixes maiores sempre levam vantagens na hora da refeição e por isso seriam os primeiros a se alimentarem. Depois que estes já estiverem satisfeitos, alimente os peixes mais jovens com ração de menor granulometria.
Nesse momento cabe a discussão sobre os alimentos floculados. Na realidade alimentos em flocos não são indicados para lagos. Os peixes teriam que ingerir um volume muito grande de flocos para conseguirem níveis nutricionais equivalentes de uma alimentação granulada (para entender melhor, pense que um granulado é muito mais concentrado que um floco). O fato de os flocos afundarem na água com mais facilidade é outro fator que o desfavorece. Na realidade, a maioria dos peixes que temos em lagos de jardim (refiro-me a Kingyos e Carpas) alimenta-se no fundo do lago. Sendo assim, teoricamente um alimento que afunde seria o mais ideal e portanto, o fato de o floco afundar com mais facilidade não seria uma desvantagem, mas, na verdade, uma vantagem. No entanto, como esses peixes alimentam-se em todas as regiões da água, damos preferência pela ração flutuante para “obrigar” o peixe a chegar à superfície do lago. Dependendo da extensão do lago, muitas vezes não é possível apreciar os peixes com muitos detalhes. Um excelente momento para essa apreciação é durante as refeições. Utilizando uma ração flutuante, forçaremos os peixes a chegarem à superfície da água e assim poderemos observa-los melhor. Durante essa observação, não devemos apenas apreciar a beleza dos peixes. Esse é o momento ideal para estarmos verificando também a saúde geral deles. Saberemos com mais precisão o quanto estão comendo e caso hajam sobras, conseguimos retira-las com mais facilidade. Portanto, são inúmeras as vantagens da ração flutuante, principalmente granulada.
Quantidade de Ração: Muitas dúvidas surgem quanto à quantidade ideal de ração que devemos oferecer aos peixes. Poder-se-ia dizer que 2~3% da massa do peixe seriam a quantidade diária ideal de ração. No entanto, essa regra é bastante geral e na prática torna-se bastante inviável sua aplicação. O primeiro motivo é a diferença de qualidade entre as rações. Rações de boa qualidade apresentam índices de digestibilidade muito altos, comparadas às rações de baixa qualidade. Ou seja, embora as quantidades fornecidas sejam as mesmas (2,5% por exemplo), o aproveitamento será diferente e conseqüentemente o desenvolvimento será diferente (o mesmo raciocínio vale para a quantidade de nutrientes de cada ração). Outro motivo para essa regra não ser sempre válida é a quantidade de alimentos que os peixes ingerem, além da ração. É comum os peixes encontrarem, no lago, outros alimentos, que acabam entrando em sua dieta, alterando então a quantidade de ração que precisamos oferecer-lhes. Freqüência de Alimentação: Na Natureza, os peixes ficariam praticamente o dia inteiro em busca de alimento e portanto, normalmente, comeriam pequenas quantidades mas várias vezes ao dia. Se possível, é dessa maneira que devemos alimentar nossos peixes também.
Estudos indicam que os peixes que se alimentam três vezes ou mais ao dia, desenvolvem-se até 60% mais que os peixes alimentados apenas uma vez ao dia. Ou seja, se um peixe necessita de 30 gramas de ração diariamente, é preferível oferecê-la em três porções de 10 gramas, a somente uma porção de 30 gramas.
Entre 20~25ºC, carpas demoram cerca de 3 a 4 horas para digerir um alimento. Por isso, evite mantê-los sem alimentação por tempo superior a esse período. Dessa forma, é possível aproveitar os nutrientes da ração da melhor maneira possível.
Qualidade da Ração: Voltando à discussão sobre a digestibilidade da ração, podemos dizer que ela está diretamente relacionada ao seu processo de fabricação. Podemos ilustrar o processo de fabricação da seguinte forma:
- A escolha dos ingredientes e compostos ideais para compor uma dieta equilibrada, com nutrientes de qualidade e estáveis;
- O descarte das partes dos ingredientes que não serão absorvidos pelos peixes (ossos, cascas, etc.); - O tempo e forma de preparo, que inclui tempo de cozimento para que não haja a perda de nutrientes;
- O processo de formação da ração em si (processo de extrusão por exemplo.)
- A forma e método de embalagem da ração, para que os nutrientes não se percam enquanto a ração não for utilizada. Mesmo que de maneira simplificada, é possível notar que o processo de produção não é nada simples e que cada etapa desse processo requerem atenção e cuidados especiais. Cada cuidado a mais em cada etapa da produção, garantirão um alimento de melhor qualidade, mas conseqüentemente a um custo mais elevado. O que deve-se considerar portanto, é o custo-benefício de uma ração, e nunca apenas o seu custo.
Conclusão:
A nutrição dos peixes é algo de extrema importância para o bom funcionamento de um lago e principalmente à saúde dos peixes. Peixes saudáveis são mais exuberantes e mais ativos, enriquecendo, assim, qualquer lago. Alimentação é um assunto sério e que deve estar sempre sob a atenção do hobbysta para que possa ter resultados cada vez mais satisfatórios. Para isso, esse artigo encerra-se por aqui sugerindo a leitura de outros artigos e textos, tanto em livros quanto na própria internet.
Sugestões de leitura:
Alimentação e Nutrição de Peixes Ornamentais - Parte 1
por Dr. Rodrigo G. Mabília
Alimentação e Nutrição de Peixes Ornamentais - Parte 2
por Dr. Rodrigo G. Mabília
Alimentação e Nutrição de Peixes Ornamentais - Parte 3
por Dr. Rodrigo G. Mabília

3 comentários:

Viviane disse...

O blog é muito interessante. Gostei muito desse curso sobre lagos de jardim. Parabéns!

Viviane disse...

O Blog é muito interessante. Gostei muito do curso sobre Lagos de Jardim. Parabéns!

Viviane disse...

O Blog é muito interessante.Gostei muito do curso sobre lagos de jardim. Parabéns!