domingo, 28 de setembro de 2008

Nos Jardins Submersos da Bodoquena

Todos aqueles que se dedicam em manter aquários plantados com densos carpetes de vegetação luxuriante, sabem que tal tarefa, embora imensamente prazerosa não á lá tão fácil e requer bastante dedicação por parte do Aquarista. Afinal, proporcionamos condições para a existência de um pequeno mundo, onde a temperatura de cor e a intensidade de luz é calculada de maneira exagerada e proposital , onde as trocas d’água são constantes, com substratos repletos de nutrientes somados a outros fertilizantes que costumeiramente adicionamos ao aquário, além da própria injeção de CO2...tudo isso a fim de otimizar o processo de fotossíntese, que nos proporciona verdadeiros jardins subaquáticos (nosso eterno objetivo).

Resumidamente falando, o fator sucesso ou desastre num aquário plantado caminha por uma linha muito tênue, quase como um fio de uma navalha e está diretamente relacionado à dedicação, disciplina e olhar clínico do Aquarista ante a qualquer sinal que possa denotar algum desequilíbrio que conduza ao desastre.

Enfim, buscamos tanto à intervenção mecânica e tecnológica para atingirmos o equilíbrio perfeito em nossos aquários, que muitas vezes somos levados a acreditar que na Natureza não devem existir lugares assim, com imensos carpetes de vegetação rasteira, plantas médias e grandes de forma e colorido intenso, vivendo em harmonia e total equilíbrio com algas, peixes e crustáceos, além de outros seres diminutos, sem nenhuma intervenção humana.
Rio Cristalino - Bonito - MS

É bem verdade que existem bem poucos lugares assim em todo o Mundo, no entanto, somos brasileiros e fomos amplamente agraciados pela Mãe Natureza que nos presenteou com eco-sistemas maravilhosos nunca antes vistos em nenhum outro lugar . Esse é o caso dos rios da Serra da Bodoquena, em Mato Grosso do Sul, que abrange as cidades de Bonito e Jardim e se estendem por uma ampla região denominada de Planalto da Bodoquena.

Foto aérea - Serra da Bodoquena
O grande lance que dá sustentação a todo esse Paraíso está diretamente ligado à sua formação geológica. Ocorre que no período Pré-cambriano, há cerca de 550 e 570 milhões de anos atrás, surgiu ali um imenso oceano denominado Oceano Corumbá. Nesse Oceano não existiam peixes ou formas mais evoluídas de Vida. Havia apenas algas calcárias, que proporcionavam uma grande quantidade de sedimentos calcários no fundo desse Oceano, semelhantes aos Recifes de Corais que hoje conhecemos.
Ilustração - Mapa Planalto da Bodoquena
Tais sedimentos, acumulados em diversas camadas por centenas de anos proporcionaram verdadeiros paredões de rocha. Após o desaparecimento desse oceano, devido ao movimento das placas tectônicas existentes na crosta terrestre ocorreu à formação da Serra da Bodoquena que foi lentamente erodida transformando-se no Planalto da Bodoquena, como é conhecido nos dias atuais. Esses movimentos tectônicos ocasionaram a exposição das rochas calcárias que se encontravam no fundo do extinto Oceano Corumbá e essas rochas denominadas de “tufas calcárias” encontram-se em processo de dissolução (fato que comumente ocorre na presença de ácidos contidos na água).

Tufas calcárias
Dessa forma, através das “surgências ou olhos d’água”, que são condutos subterrâneos de água em forma de buracos ou fraturas do subsolo, ocasionados pela dissolução dessas rochas calcarias, grandes quantidades de carbono na forma de gás carbônico dissolvido na água (aquele mesmo CO2 que utilizamos em nossos aquários plantados) é injetado no sistema aquático e ao longo do curso desses rios (Sucuri, nascente do Rio da Prata, Córrego Azul, etc..)o Carbonato de Cálcio dissolvido passa a se precipitar formando uma espécie de “casca calcária ou carbonática” por onde passa . Por essa razão é comum encontrarmos troncos petrificados, plantas e até mesmo objetos abandonados, tais como latas e garrafas com essas incrustações. Por essa razão dizemos que o Planalto da Bodoquena é o lugar onde “as cachoeiras crescem”, devido às incrustações formadas pela deposição do carbonato de cálcio, após as quedas de água por toda a região.

Tufas calcárias na forma de cachoeiras, Rio Mimoso, Bonito-MS
A essas incrustações denominamos “tufas calcarias”. Isso também explica a limpidez das águas, pois o calcário dissolvido decanta as poucas impurezas ali existentes, fazendo com que haja visibilidade subaquática em algumas áreas com profundidades superiores a 50 metros (um verdadeiro clarificante natural).

Ancistrus formoso, cascudo albino, que só existe em rios subterrâneos e cavernas inundadas da Serra da Bodoquena. Descrito em 1997, ele figura na recente lista oficial das espécies brasileiras ameaçadas de extinção, publicada pelo IBAMA

Curimbatá - detalhe

Um verdadeiro jardim aquático

Conforme pudemos constatar o grande segredo da luxuriante vegetação aquática existente em diversos rios do Planalto da Bodoquena, deve-se principalmente à transparência de suas águas que permitem que a luz atue de forma plena, tal qual buscamos oferecer às plantas que habitam nossos aquários, bem como o alto teor de CO2 dissolvido na água, outro recurso que também utilizamos em nossos aquários.

Simplesmente magnífico !!!

Peixes e plantas vivendo harmoniosamente...

Estimativas levantadas por diversos Cientistas indicam que cerca de 20% das 80 a 90 espécies dos peixes da Bodoquena ainda não foram descritas pelos biólogos, ou seja, ainda são desconhecidas, sendo que a grande maioria dessas espécies constitui-se em lambaris e bagres.
Um bom exemplo disso é o lambari Moenkhausia bonita, descrito no início de 2004 por pesquisadores da USP e UNIDERP, é um exemplo do desconhecimento dos rios da região.
Reparem na intensidade do vermelho desse matogrosso!
Espero que tenham gostado da matéria . As fontes de consulta basearam-se no livro que indico abaixo e as fotos foram obtidas na Internet .

Recomendo a todos que gostaram do assunto a aquisição do livro – Nos Jardins Submersos da Bodoquena – Guia para Identificação de Plantas Aquáticas de Bonito e Região, onde encontrarão muito mais informações a respeito do assunto, incluindo um catálogo de plantas da região e dezenas de fotos coloridas . Esse livro constituiu valiosa fonte de consulta para a elaboração desse artigo. Vale a pena compra-lo!

Autores: Edna Scremin-Dias, Vali Joana Pott, Regis Catarino da Hora e Paulo Robson de Souza. Participação: Otávio Froëhlich e Paulo Boggiani
Apoio: Fundo Nacional do Meio Ambiente - MMA
Realização: Ecoa e Editora UFMS 1999
Em breve tem mais .
Sincero abraço do seu Editor Aquablog !












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