Introdução
Todo Aquarista, seja iniciante ou veterano, lidando com seus peixes ou plantas aquáticas, às vezes se depara com uma situação peculiar: a identificação precisa dos seres vivos os quais está criando ou cultivando. Quando falamos em identificação precisa, nos referimos ao seu nome científico, acompanhado de sua posição taxonômica, ou seja, sua posição dentro da grande escala de classificação dos seres vivos. Mas, o que seria isso, para nós, Aquaristas? Não seria mais conveniente, e menos trabalhoso, se conhecêssemos nossos peixes e plantas apenas pelos seus nomes vulgares?
Histórico
Chamamos Sistemática ou Taxonomia a área da Biologia que cuida da identificação dos indivíduos e de seus respectivos agrupamentos, sendo estes os mais conhecidos o gênero e a espécie. Mas, esse ramo da ciência é praticamente recente.
Desde a antiguidade até fins do século XVII, os seres vivos eram classificados arbitrariamente, pois não havia um critério de consenso que determinasse qualquer característica em comum entre eles. Cada cientista empregava seu método, resultando em algo bem pior do que listagens de nomes vulgares.
Somente no século XVIII, o naturalista sueco Carl Von Linné, que depois ficou mundialmente conhecido como Linnaeus, elaborou um criterioso sistema de classificação, baseado no conceito de espécie formulado pelo inglês John Ray no final do século anterior, que classificava os seres vivos de acordo com a sua semelhança a diversos tipos preestabelecidos. Em meados do século XIX, com a descoberta dos cromossomos e dos genes, e conseqüente confirmação da Teoria Evolucionista de Charles Darwin, o sistema foi definitivamente aperfeiçoado, sendo que o agrupamento dos seres vivos passou a ser feito segundo uma ordenação filogenética (do grego phile = ordem, série; genesis = criação), ou seja, de acordo com o grau de parentesco entre eles.
A Sistemática de Linnaeus
Considera-se, para efeito de classificação, que a afinidade entre os diversos organismos é tanto maior quanto mais próximos estiverem de um mesmo ancestral, evolutivamente. Assim, espécies de um mesmo gênero possuem mais características comuns, assim como os gêneros de uma mesma família, e assim por diante. Esse sistema natural utiliza o maior número possível de dados, obtidos, entre outros, da morfologia externa e interna, fisiologia, ecologia e análise dos cromossomos, levando-se em conta, também, os eventuais resultados de estudos de fósseis.
Assim, podemos definir espécie – unidade básica do sistema de classificação – como sendo um agrupamento de indivíduos semelhantes e procedentes de um ancestral comum que, pela seleção natural, sob a influência do meio ambiente, adquiriu características próprias que o diferenciam de todos os demais seres vivos, sendo que tal conceito de espécie é confirmado na prática pela possibilidade de reprodução sexuada entre os indivíduos que dela fazem parte.
Na nomenclatura dos seres vivos, escolheu-se utilizar uma língua já extinta – o latim– tanto para escrita como para a pronúncia, sendo que para cada categoria sistemática entre Divisão (Filo) e Família há um sufixo latino característico (havendo exceções). Categorias intermediárias também são utilizadas para indicar com maior exatidão a filogenia.
Para a designação da espécie, ficou convencionado o uso de nome binário, em caracteres grifados – negrito ou itálico – se impresso, ou sublinhado, se manuscrito, o primeiro relativo ao gênero – palavra única, no nominativo singular, com a primeira letra maiúscula e as demais minúsculas – e o segundo a espécie propriamente dita – palavra simples ou composta, gramaticalmente concordante com o nome genérico, e com todas as letras minúsculas – havendo, ainda a possibilidade da existência de um terceiro nome, precedido de um termo às vezes abreviado, que poderá indicar variações intra-especificais, que em Botânica recebem o nome de subespécie (ssp.), variedade (var.) e forma. Exemplificando: Rorippa nasturtium-aquaticum;
Sagittaria subulata var. kurziana; Vallisneria spiralis forma nana.
Sagittaria subulata var. kurziana; Vallisneria spiralis forma nana.
Quando se quer referir a uma espécie ainda não totalmente classificada ou simplesmente desconhecida, da qual só se conhecesse o gênero, usa-se o primeiro nome seguido de "sp.": Echinodorus sp.; de maneira semelhante, refere-se ao nome de subespécie desconhecida, acrescentando-se "ssp.".
Muitas vezes, os nomes referem-se a alguma característica marcante (morfológica, fisiológica, ou ecológica), região ou localidade onde a espécie foi encontrada, ou pessoa que se queira homenagear. E tudo isso em latim, é claro.
Em trabalhos científicos e folhas de herbário é obrigatória indicação do nome – inteiro ou abreviado – da pessoa que fez a classificação pela primeira vez. Quando são duas, usa-se a conjunção latina "et" entre seus nomes. Caso a espécie seja reclassificada, passando de um gênero para outro, coloca-se o nome do autor ou autores da primeira classificação entre parênteses, seguido do nome da pessoa (ou pessoas) que fez a reclassificação. Por exemplo: Schott classificou certa espécie de planta como sendo Cryptocoryne gomezzi, sendo que, futuramente, Bogner e Jacobsen a reclassificaram como Lagenandra gomezzi; assim, de acordo com as convenções científicas, Cryptocoryne gomezzi Schott passou a se chamar Lagenandra gomezzi (Schott) Bogner et Jacobsen. Há ainda outras regras para alterações de nomes, que devido a pouca utilidade para nós, amadores, serão omitidas. Por comodidade, usaremos os nomes científicos de forma mais simplificada.
Em Botânica, são as seguintes as categorias sistemáticas, em escala descendente, com os respectivos sufixos mais usados, para o caso das algas e cormófitas (vegetais com raízes, caule e folhas):
Categoria Sistemática | Sufixos | |
Algas | Cormófitas | |
Divisão | -phyta | -phyta |
Subdivisão | -phytina | -phytina |
Classe | -phyceae | -opsida |
Subclasse | -phycidae | -idae |
Ordem | -ales | -ales |
Subordem | -inae | -inae |
Família | -aceae | -aceae |
Subfamília | -oidea | -oidea |
Tribo | -eae | -eae |
Subtribo | -ineae | -ineae |
A seguir, apresentamos uma tabela com a classificação simplificada das principais plantas de aquário (ou melhor dizendo: plantas hidrófilas) conhecidas, com as divisões, famílias e os principais gêneros, lembrando que as condições de pH, dureza, luz, temperatura, exigências quanto ao substrato, etc., via de regra costumam ser semelhantes entre as mais próximas na hierarquia de parentesco:
DIVISÃO | FAMÍLIA | GÊNERO | Tipo predominante das espécies (*) |
CHAROPHYTA (algas pluricelulares) | Characeae | Nitella | Aquáticas obrigatórias. |
BHYOPHYTA (Musgos e hepáticas) | Ricciaceae | Riccia | Flutuantes e submersas. |
Hypnaceae | Vesicularia | Anfíbias. | |
Pallaviciniaceae | Symphyogyna | Anfíbias | |
PTERIDOPHYTA (Samambaias, avencas, licopódios) | Isoetaceae | Isoetes | Aquáticas e anfíbias. |
Acrostichaceae | Acrosticum | Palustres adaptáveis ao meio aquático. | |
Azollaceae | Azolla | Flutuantes. | |
Ceratopteridaceae | Ceratopteris | Anfíbias. | |
Marsileaceae | Marsilea | Anfíbias. | |
Pilularia | Anfíbias. | ||
Polypodiaceae | Bolbitis | Anfíbias. | |
Microsorium | Anfíbias | ||
Salviniaceae | Salvinia | Flutuantes. | |
SPERMATOPHYTA (Plantas superiores) | Acanthaceae | Hygrophila | Palustres adaptáveis ao meio aquático. |
Alismataceae | Echinodorus | Aquáticas obrigatórias, palustres, adaptáveis ao meio aquático e anfíbias. | |
Sagittaria | Aquáticas obrigatórias e aquáticas com folhas flutuantes. | ||
Amaranthaceae | Alternanthera | Aquáticas obrigatórias e anfíbias. | |
Amaryllidaceae | Crinum | Palustres adaptáveis ao meio aquático. | |
Apiaceae | Hydrocotyle | Aquáticas com folhas flutuantes e anfíbias. | |
Lilaeopsis | Anfíbias. | ||
Aponogetonaceae | Aponogeton | Aquáticas obrigatórias e aquáticas com folhas flutuantes. | |
Araceae | Anthurium | Anfíbias. | |
Acorus | Anfíbias | ||
Anubias | Anfíbias. | ||
Crytocoryne | Palustres adaptáveis ao meio aquático, aquáticas obrigatórias e anfíbias. | ||
Lagenandra | Palustres adaptáveis ao meio aquático e anfíbias. | ||
Pistia | Flutuantes. | ||
Spathiphyllum | Anfíbias. | ||
Syngonium | Anfíbias. | ||
Barclayaceae | Barclaya | Aquáticas obrigatórias. | |
Brassicaceae | Cardamine | Palustres adaptáveis ao meio aquático. | |
Rorippa | Aquáticas obrigatórias. | ||
Cabombaceae | Cabomba | Aquáticas com folhas flutuantes. | |
Callitrichaceae | Callitriche | Palustres adaptáveis ao meio aquático e aquáticas obrigatórias. | |
Ceratophyllaceae | Ceratophyllum | Aquáticas obrigatórias. | |
Crassulaceae | Crassula | Anfíbias. | |
Cyperaceae | Cyperus | Anfíbias. | |
Eleocharis | Anfíbias. | ||
Eriocaulaceae | Eriocaulon | Anfíbias. | |
Euphorbiaceae | Phyllanthus | Flutuante. | |
Haloragaceae | Myriophyllum | Palustres adaptáveis ao meio aquático, e aquáticas obrigatórias. | |
Proserpinaca | Palustres adaptáveis ao meio aquático. | ||
Hydrocharitaceae | Blyxa | Aquáticas obrigatórias. | |
Egeria | Aquáticas obrigatórias. | ||
Hydrilla | Aquáticas obrigatórias. | ||
Lagarosiphon | Aquáticas obrigatórias. | ||
Limnobium | Flutuantes. | ||
Ottelia | Aquáticas obrigatórias. | ||
Vallisneria | Aquáticas obrigatórias. | ||
Lamiaceae | Hyptis | Anfíbias. | |
Lemnaceae | Lemna | Flutuantes. | |
Pseudowolffia | Flutuantes. | ||
Spirodela | Flutuantes. | ||
Wolffia | Flutuantes. | ||
Wolffiella | Flutuantes. | ||
Wolffiopsis | Flutuantes. | ||
Lentibulariaceae | Utricularia | Aquáticas obrigatórias e flutuantes. | |
Lilaeaceae | Ophiopogon | Anfíbias. | |
Limnocharitaceae | Hydrocleys | Palustres adaptáveis ao meio aquático. | |
Lobeliaceae | Lobelia | Anfíbias. | |
Lythraceae | Ammania | Palustres adaptáveis ao meio aquático. | |
Didiplis | Palustres adaptáveis ao meio aquático. | ||
Rotala | Palustres adaptáveis ao meio aquático e aquáticas obrigatórias. | ||
Mayacaceae | Mayaca | Palustres adaptáveis ao meio aquático e anfíbias. | |
Melastomaceae | Aciotis | Palustres adaptáveis ao meio aquático. | |
Menyanthaceae | Nymphoides | Aquáticas com folhas flutuantes. | |
Villarsia | Aquáticas com folhas flutuantes. | ||
Najadaceae | Najas | Aquáticas obrigatórias. | |
Nymphaeaceae | Nuphar | Aquáticas obrigatórias e aquáticas com folhas flutuantes. | |
Nymphaea | Aquáticas com folhas flutuantes. | ||
Onagraceae | Ludwigia | Palustres adaptáveis ao meio aquático e aquáticas obrigatórias. | |
Plantaginaceae | Littorella | Aquáticas obrigatórias. | |
Podostemonaceae | Mourera | Aquáticas obrigatórias. | |
Polygonaceae | Polygonum | Palustres adaptáveis ao meio aquático. | |
Pontederiaceae | Eichhornia | Palustres adaptáveis ao meio aquático, anfíbias e flutuantes. | |
Heteranthera | Palustres adaptáveis ao meio aquático e aquáticas com folhas flutuantes. | ||
Potamogetonaceae | Potamogeton | Aquáticas com folhas flutuantes. | |
Primulaceae | Hottonia | Palustres adaptáveis ao meio aquático. | |
Lysimachia | Palustres adaptáveis ao meio aquático. | ||
Samolus | Anfíbias. | ||
Saururaceae | Houttuynia | Anfíbias. | |
Saururus | Palustres adaptáveis ao meio aquático. | ||
Scrophulariaceae | Bacopa | Palustres adaptáveis ao meio aquático e anfibias. | |
Glossostigma | Palustres adaptáveis ao meio aquático e aquáticas obrigatórias. | ||
Limnophila | Palustres adaptáveis ao meio aquático. | ||
Micrantemum | Anfíbias. | ||
Trapaceae | Trapa | Aquática com folhas flutuantes. |
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