Nota Aquablog : Muito se tem ouvido falar sobre a Viremia Primaveril que tem assolado os proprietários de carpas coloridas e outros ciprinídeos ornamentais por todo o Brasil. Trata-se de uma infecção por vírus, aguda e altamente infecciosa que surge nos lagos ornamentais através de novos peixes introduzidos pré infectados.
Essa doença não tem cura e é de notificação obrigatória ao Ministério da Agricultura devido ao seu grande poder de destruição. Apesar de não ter cura, os peixes que acabam superando a doença tornam-se praticamente imunes, mas continuam portadores do vírus para o resto da vida, infectando quaisquer outros peixes novos não portadores do virus que por acaso sejam colocados no mesmo lago.No entanto, apesar de alguns sintomas clássicos, tais como feridas pelo corpo do tipo "eritrodermatite" e a clássica "hidropsia abdominal infecciosa", além da velocidade do próprio quadro infeccioso (sintomas clássicos de peixes portadores de viremia primaveril), segundo o Dr. Rodrigo Mabilia, até hoje não era possível identificarmos com segurança se tratava-se mesmo de viremia, tendo em vista não existirem laboratórios específicos ligados ao Ministério da Agricultura que fornecessem esse diagnóstico. Esse quadro já mudou e é com imensa satisfação que o Aquablog traz essa notícia, em primeira mão, a toda a comunidade ligada à Aquariofilia:
AQUICULTURA GANHA LABORATÓRIO INTERINSTITUCIONAL DE SANIDADE
Pesquisadores Marcio Hipólito, hipolito@biologico.sp.gov.br, do Instituto Biológico, e Cláudia Maris Ferreira Mostério, claudia@pesca.sp.gov.br, do Instituto de Pesca, www.pesca.sp.gov.br, 18 de novembro de 2010
O Instituto Biológico e o Instituto de Pesca, órgãos mantidos pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, inauguram no próximo dia 3 de dezembro, às 10 horas, o “Laboratório Interinstitucional de Sanidade em Aquicultura” (LISA), sediado no Instituto Biológico, avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 1252 - Vila Mariana, Capital.
O Laboratório foi idealizado para atender a demandas da aquicultura paulista e brasileira, setor de produção animal que mais progrediu nos últimos anos.
A ação do Instituto Biológico, com sua experiência em sanidade animal, somada às atividades desenvolvidas tradicionalmente pelo Instituto de Pesca na área da aquicultura, deverá se constituir em base para o estabelecimento de programas de pesquisas, novos serviços e definição de políticas públicas voltadas à sanidade aquícola, com foco no crescimento sustentável do setor.
A aquicultura, em franco desenvolvimento no Brasil, vem se impondo como atividade pecuária, destacando-se como um dos segmentos agroindustriais bem sucedidos e economicamente atrativos. Esse rápido avanço está associado, dentre outros fatores, à introdução de espécies exóticas e ao uso de espécies nativas. Entretanto, as análises de risco dos animais cultivados evidenciam que as doenças, ocasionadas por vírus, bactérias, parasitas e fungos, decorrentes de falhas de manejo, constituem fatores comprometedores da atividade.
O controle do estado de saúde dos organismos aquáticos criados em cativeiro é importante não só do ponto de vista bioecológico, mas também do ponto de vista econômico-financeiro. A criação do Laboratório de Sanidade em Aquicultura tem como objetivos detectar a presença de agentes patogênicos, através de métodos recomendados pela Organização Mundial de Saúde Animal, implementando protocolos de microbiologia, histopatologia, hibridização ‘in situ’, PCR (Polymerase Chain Reaction), Microscopia Eletrônica de Transmissão, assim como habilitar técnicos da Secretaria de Agricultura em tais técnicas.
Com o treinamento e a implantação das técnicas, pretende-se suprir uma lacuna na detecção de doenças de organismos aquáticos, especialmente as de notificação compulsória, que atualmente são percebidas no estado de São Paulo.
EVOLUÇÃO DA AQUICULTURA
A aquicultura brasileira vem se impondo como atividade pecuária, embora ainda seja considerada por muitos como apêndice do setor pesqueiro. Praticada em todos os estados brasileiros, essa atividade abrange principalmente a criação de peixes (piscicultura), camarões (carcinicultura), rãs (ranicultura) e moluscos, como ostras e mexilhões (malacocultura).
Dados da FAO de 1999 atestam que, desde 1990, a aquicultura mundial vem apresentando crescimento anual de 8,9%, sendo este muito superior ao crescimento da indústria pesqueira oriunda da captura (1,4%) e ao dos sistemas de produção de proteína de animais terrestres (2,8%), para o mesmo período. No Brasil, a aquicultura também vem registrando crescimento superior à média mundial, passando de 20,5 mil toneladas, em 1990, a 210 mil toneladas, em 2001, com uma receita de US$ 830,3 milhões, representando um crescimento de aproximadamente 825%, enquanto a aquicultura mundial cresceu 187% no mesmo período.
Com o objetivo de conhecer e diagnosticar patologias que possam comprometer tal produção, foi criado em 2005 o “GRUPO AQUA”, uma parceria entre o Instituto Biológico e o Instituto de Pesca, cujos resultados deram origem ao LISA. O AQUA deve criar, desenvolver e incrementar ações para atividades conjuntas no controle sanitário, através de estudos de processos patológicos.
Os principais objetivos do LISA são: contribuir para o fortalecimento e desenvolvimento da área de sanidade em aquicultura, com ênfase em pesquisa, prestação de serviços e capacitação de recursos humanos; desenvolver pesquisas, análises e serviços na área de patologia de organismos aquáticos, bem como serviços de certificação sanitária e diagnósticos de enfermidades juntamente com o desenvolvimento de técnicas de diagnóstico e de proteção imunológica, além da prescrição de manejos e tratamentos. Competirá ainda ao LISA a divulgação de informações técnico-científicas para programas de sanidade de organismos aquáticos e de sustentabilidade de cadeias produtivas da pesca, aquicultura e sistemas agrícolas, em benefício da sociedade.
Basicamente, cabe ao Laboratório de Sanidade manter uma equipe multidisciplinar destinada a sistematizar o conhecimento para a implantação de protocolos de diagnóstico na área de patologia de organismos aquáticos.
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Revisão de texto: Antônio Carlos Simões e Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com