A importância do Oxigênio dissolvido em nosso Lagos e na
filtragem biológica:
Aqueles que gostam de pescar de vez em quando (como eu
gosto) já se depararam com situações em que o sol está bem forte, a temperatura
alta, os peixes bem visíveis na superfície da agua, porém inativos, muitos
boquejando na superfície e não beliscando de jeito nenhum. Por que será que
isso acontece?
Resposta: Falta de oxigênio dissolvido na água
por conta de altas temperaturas, alta carga orgânica, profusão de
algas e baixa pressão atmosférica.
Aquilo que chamamos vulgarmente de “ar que respiramos” ou
até mesmo de oxigênio é na verdade um composto que de oxigênio puro leva apenas
21%, sendo o restante basicamente nitrogênio. Essa é mais uma razão pela qual a
incorporação de oxigênio à água não é tarefa das mais fáceis, além de diversos
fatores que veremos a seguir."
Uma das causas mais comuns para a mortalidade de peixes é a
baixa concentração de oxigênio dissolvido nos corpos aquáticos, principalmente
em se tratando de carpas por serem peixes de água fria, tal qual as trutas e os
salmões. Conforme podemos perceber pela tabela abaixo, quanto menor a
temperatura, maior a solubidade (incorporação) do oxigênio na água e veremos a
seguir como isso é vital para a saúde dos peixes e o pleno equilíbrio de nossos
sistemas aquáticos.
Entendendo a Pressão Atmosférica - Lembramos também que
quanto maior a altitude, ou seja, quanto mais acima do nível do mar estivermos,
menor será a pressão atmosférica e pressões atmosféricas baixas diminuem a
incorporação de oxigênio na água e até mesmo em nossos pulmões – basta
lembrarmos o mal estar por falta de oxigênio que sentimos quando estamos em
grandes altitudes – peixes não são tão diferentes. Variações grandes de
temperatura provocam massas de ar que interferem diretamente na pressão
atmosférica e por essa razão a pressão atmosférica também interfere nas
pescarias por provocar certa inatividade dos peixes que procuram se adequar à
falta de oxigênio, principalmente em dias muito quentes.
O valor mínimo de oxigênio dissolvido (OD) para a
preservação da vida aquática, estabelecido pela Resolução CONAMA 357/05(2) é de
5,0 mg/L, mas existe uma variação na tolerância de espécie para espécie.
Segundo o Sr. Tanabe, respeitável criador de Nishikigois no
Brasil e profundo conhecedor do assunto o oxigênio dissolvido na água é
totalmente vital para a saúde dos peixes e é também o responsável por grande
parte da perda de exemplares.
Percebemos aí a importância da aeração dos lagos por
compressores via pedra porosa, onde quando menores forem as bolhas, maior a
incorporação de oxigênio, bem como da importância da existência de zonas de
turbulência como cascatas e bombas de movimentação. Vale ressaltar também a
importância do teste de O2 dissolvido, que muita gente não dá importância.
Outro fator a se considerar é que a salinidade, não só de
Nacl (cloreto de sódio = sal comum) que normalmente usamos em nosso lagos no
combate e prevenção de doenças (se for usar escolha sempre sem iodo), mas
também os compostos nitrogenados (Amônia, Nitrito e Nitrato) também interferem
na dissolução ou preservação de bons teores de oxigênio dissolvido no lago.
O Sr Tanabe estabelece ainda, em suas considerações, que a
medida ideal de O2 dissolvido (OD) para a criação e manutenção de Nishikigois
obedece à tabela abaixo, sendo que, abaixo disso os peixes estarão apenas
sobrevivendo
Carpas Nishikigoi
OD ideal
> 10 PPM (PPM = partes por milhão)
OD bom
> 8 PPM
OD aceitável
> 6 PPM
Alerta também que águas subterrâneas podem ser pobres em
oxigênio devendo ser aeradas ou substituídas de forma gradual no lago.
Lembramos também que algumas águas subterrâneas possuem alta concentração de
CO2 que costuma acidificar bastante a água, podendo ocorrer choque de pH. No
entanto se a reserva alcalina da água (KH) não for muito alta conseguimos
desprender o CO2 por simples agitação (compressor e pedra porosa) ou mesmo pelo
movimento de uma boa cascata, que restabelecerá o PH desejável da água -
preferencialmente em 7,5). Vejamos aí a importância também de um bom teste de
PH e KH.
Na tabela abaixo vemos a quantidade máxima de O2 que pode
ser dissolvido na água (níveis de saturação) que cai conforme o aumento da
temperatura. Por essa tabela fica clara a importância de aerarmos o nosso lago
ao máximo que pudermos, tendo-se em vista que esses números falam de saturação
de oxigênio e não de níveis normais obtidos por simples movimentação de água,
considerando-se ainda os níveis recomendados pelo Sr. Tanabe:
A partir daí não há como não falarmos da filtragem
biológica, que é a alma da manutenção, saúde e beleza de nosso lagos. Quando
falamos sobre filtragem biológica falamos sobre bactérias que atuam na oxidação
e decomposição de matéria orgânica e para ficar mais fácil a explicação iremos
dividi-las em 3 grupos :
1 grupo – bactérias anaeróbicas – atuam em meio anóxico (sem
oxigênio) e na ausência de oxigênio dissolvido na água quebram o nitrato (NO3)
num processo chamado desnitrificação
para conseguirem o oxigênio que necessitam liberando N2 (nitrogênio
gasoso) .Bastante utilizados pelos aquaristas marinhos e imortalizadas pelo
sistema Jaubert ou Plenum são de grande
auxilio também no controle de algas por diminuírem o nitrato que é uma das
principais fontes de alimentos para algas . Em lagos poderemos encontra-las
principalmente após o segundo centímetro do substrato (areia de fundo) em zonas
anóxicas. Também são responsáveis por produzirem gases de cheiro desagradável
tais como sulfeto de hidrogênio que algumas vezes podem ser percebidos em
formas de bolhas de odor fétido que saem do substrato.
2 grupo – Bactérias facultativas – Também são denitrificantes.
A diferença é que essas bactérias podem ou não usar oxigênio para realizar o
processo de denitrificação e precisam de uma fonte de oxigênio (doador de
elétrons) e um composto orgânico, geralmente açúcares e derivados, que será a
ponte para os elétrons no processo de obtenção de energia do organismo. Na falta de oxigênio, tal qual o primeiro
grupo de bactérias, ela usa o oxigênio presente no nitrato (NO3) e na falta
deste o nitrito (NO2), podendo usar até o sulfato (SO4---) e assim por diante
sempre visando um menor uso de energia possível no cumprimento de seu trabalho.
Atuam em zonas hipóxicas onde a quantidade de oxigênio dissolvido é
insignificante e algumas vezes até ausente. Em geral, após o primeiro
centímetro do substrato. Notem que esse substrato é composto por uma areia fina
de granulometria compatível com a finalidade. Em aquários marinhos os grãos de
substrato para essa finalidade possuem formato oolitico a fim de não gerarem
uma densa compactação.
3 grupo – aeróbicas – conforme o próprio nome diz são
bactérias que necessitam de oxigênio para desempenhar suas funções. O objetivo
de tais bactérias, ditas Nitrificantes é transformar compostos nitrogenados
(amônia em nitrito) que são extremamente tóxicos a toda vida aquática e o No2
em um terceiro composto chamado nitrato. Vale lembrar que a amônia é muito mais
tóxica em PHs altos (o que é muito comum em nossos lagos) devido à existência
de algas, tendo em vista que como essas fazem fotossíntese, fatalmente consomem
CO2 durante o dia produzindo oxigênio. Esse CO2 consumido obviamente sai da
água, tornando-a alcalina, tendo em vista que o CO2 (gás carbônico) é uma
substância altamente acidificante. Por essa razão aquaristas que possuem
aquários plantados com injeção de CO2 monitoram constantemente o PH e mantém
uma reserva alcalina relativamente alta (reserva alcalina = KH = alcalinidade =
capacidade tampão de manter um PH estável), pois se não fizessem isso teriam um
PH absurdamente ácido e é sabido que em PHS abaixo de 5 praticamente não existe
filtragem biológica por inativação das bactérias nitrificantes.
Já a noite, em lagos com muita alga e baixa reserva alcalina
acontece exatamente o contrário: na ausência de luz (sol) as algas deixam de
fazer fotossíntese e passam a respirar consumindo oxigênio e produzindo o
famigerado CO2 que de dia irá alimenta-las para que aumentem mais ainda.
Obviamente que o PH dessa vez irá cair, pois as algas estarão reintroduzindo-o
ao meio aquático. Esses choques de PH causados por esse comportamento das algas
também ajudam no aumento do stress e diminuição da saúde dos peixes. Agora que
já entendemos o papel das algas na produção de oxigênio (de dia) e consumo do
mesmo (a noite) podemos entender melhor o porque do fato de que a maior taxa de
mortalidade de peixes ocorre a noite =
(ausência ou baixíssimos níveis de oxigênio dissolvido diminuindo a imunidade
de uma forma geral).
Dessa forma, podemos voltar ao assunto da filtragem
biológica. Não é correta a afirmação de que climas quentes e altas temperaturas
são boas para o desempenho do filtro biológico e vou explicar o porquê disso.
Embora bactérias nitrificantes possam ter uma aceleração em seu metabolismo no
sentido de multiplicarem-se mais em altas temperaturas, como já vimos, isso
apenas não adianta, pois tais bactérias necessitam e consomem grandes
quantidades de oxigênio para nitrificarem. Se pegarmos uma E.T.A. (Estação de
Tratamento de água) de tamanho considerável, que são os filtros utilizados em
grandes lagos, como essa que está abaixo, que mede cerca de 12 x 3 metros com
1,80 m de profundidade e medirmos a concentração de oxigênio dissolvido (OD) na
entrada e saída da mesma, após a atuação das bactérias nitrificantes, veremos
uma queda de OD causada pelo consumo de
oxigênio realizado por tais bactérias ao nitrificar (transformar amônia em
nitrito e nitrito em nitrato) .
Obs : a ETA ou qualquer outro tipo de filtro biológico deve
possuir tampa, pois as bactérias apreciam ambientes escuros.
Lembrando ainda que outra forma extremamente eficiente de agregar oxigênio à água é através do uso de ozonizadores que ainda são uma novidade em termos de lagos ornamental.
O interessante é que mesmo quando não utilizado (oxidando moléculas orgânicas) o ozônio após 20 minutos se decompõe em oxigênio até o ponto de saturação do mesmo na água, tornando-a cristalina e cintilante e cheia de oxigênio, que é o que todos nós queremos. Mas deixarei esse assunto de ozônio para outra ocasião, uma vez que não é o objetivo desse tópico.